domingo, 31 de julho de 2011

TRISTEZA




      Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto o poente caminheiro; Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como um desterro de minha alma errante, Onde o fogo insensato a consumia... Só levo uma saudade — é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade — é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas... De ti, ó minha mãe, pobre coitada, Que por minha tristeza te definhas! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz  — e escrevam nela: Foi poeta, sonhou e amou na vida...                                                                           Álvares de Azevedo

CANÇÃO DE OUTONO






Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles

RETRATO






"Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles

A vida

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A vida às vezes, é engraçada:
Um dia você tem tudo,
No outro, você tem nada.
E você acorda mudo,

Sem nada mais a fazer,
Sem fala e sem visão.
E só, talvez, enlouquecer,
Seja a mais breve solução.

De longe fico a observar,
Como se tudo aquilo fosse apenas,
Uma miragem, uma imagem no ar,
De consequências amenas.

E mais uma vez, então,
Invade-me um torpor,
E tenho a total ilusão,
Que posso tudo com amor.

Mas, me sinto frágil criatura,
Sem amor, sem fé, sem perdão,
Invadida pela amargura,
Com endurecido coração.